segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Introdução à Sagrada Escritura - A Bíblia na História da Igreja

Caros colegas, aqui vai um pequeno vídeo baseado nos apontamentos fornecidos pelo nosso professor DrºBernardino Henriques, sobre o capítulo da Bíblia na História da Igreja, do período apostólico ao século XXI. Espero que gostem e que seja útil como ferramenta de apoio ao estudo da disciplina de Introdução à Sagrada Escritura.

Aproveito para desejar a todos boas entradas e que 2013 seja o concretizar dos vossos sonhos!


sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Introdução à Sagrada Escritura - Apontamentos (resumo)

Percurso histórico da Bíblia na Igreja - Do período apostólico ao Concílio de Trento

O percurso histórico da Bíblia ao longo da História da Igreja foi algo atribulado. A Bíblia acompanhou a Igreja logo nos seus primeiros tempos. Após a morte de Jesus, os discípulos liam e meditavam o Antigo Testamento, faziam-no juntamente com os outros judeus nas sinagogas. No entanto, quando descobriram no Ressuscitado o próprio Senhor do Universo, o Filho de Deus feito homem para redimir o mundo, inspirados pelo Espírito Santo, tal como Jesus prometera antes da sua Paixão, começaram a escrever todo o acervo de doutrina que tinham ouvido ao Mestre de Nazaré, a quem tinham acompanhado durante três anos de vida pública.
Surge um dilema junto dos primeiros cristãos: deviam continuar a ler a Torá, os Profetas, os Escritos e os Salmos, ou os escritos dos Apóstolos? Deviam seguir Moisés ou Jesus?.
Seguindo a doutrina de S. Paulo, que via na Igreja o Novo Israel, optaram por aceitar os dois Testamentos, até porque os padres apostólicos concluíram que o Antigo Testamento era profecia do Novo Testamento e este o pleno cumprimento do primeiro..
Num intenso trabalho de seletividade, foi-se clarificando o conjunto de livros que a Igreja deveria aceitar como inspirados, ou seja, aqueles que entroncando na doutrina de algum apóstolo, eram lidos e explicados nas assembleias dominicais ou citados pelos homens santos que estavam à frente das diversas igrejas, do Ocidente a Oriente, como S. Justino, S. Irineu de Lyon, S. Clemente de Alexandria, Tertuliano de Cartago, Orígenes, S. João Crisóstomo, S. Jerónimo e S. Agostinho.
Até ao século XIII, a Bíblia foi incessantemente objeto de leitura e de meditação, não se pondo em causa a língua em que ela estivesse traduzida. Só a partir desse século, com o aparecimento de pessoas que se julgavam iluminadas é que a Igreja decidiu intervir, condenando albigenses, cátaros e valdenses, Wiclef e Huss, e proibindo traduções.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Introdução à Liturgia

A apresentação do último livro do Papa Bento XVI, Joseph Ratzinger, em Bragança, na semana passada, foi, também, a primeira "introdução" à disciplina de Liturgia, ministrada pelo bispo de Bragança-Miranda, D. José Cordeiro e cujo conteúdo foi gentilmente cedido para os alunos do IDEP.

"É-me muito grato estar aqui nesta noite da vigília da solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria, para apresentar o último livro publicado (porque sabemos que decorre a publicação Opera Omnia e está prestes o texto memórias e escritos do Vaticano II), JOSEPH RATZINGER-BENTO XVI, Jesus de Nazaré. A Infância de Jesus, editado em Portugal pela Principia. É uma grande honra apresentar este excelente estudo «da pesquisa pessoal» de J. Ratzinger que é o Papa Bento XVI.
Do tríptico Jesus de Nazaré, o livro que apresentamos, não é propriamente o 3º volume, como adverte o próprio autor logo no prefácio «não se trata do terceiro volume, mas de uma espécie de pequeno “pórtico” ou “sala de entrada” dos dois volumes anteriores sobre a figura e a mensagem de Jesus de Nazaré». A tese central assenta na verdade da fé: Jesus é plenamente homem e plenamente Deus.
O conjunto da obra Jesus de Nazaré, (O primeiro volume da obra foi prefaciado na festa de S. Jerónimo, 30 de Setembro de 2006; O segundo volume no dia 25 de Abril de 2010, festa de S. Marcos; O terceiro volume, na solenidade da assunção ao céu da Virgem Santa Maria, 15 de agosto de 2012), iniciada há nove anos, tem como objetivo de fundo a compreensão da figura de Jesus, isto é, a sua palavra e o seu agir. Por isso, como escreveu no 2º volume: «é óbvio que as narrativas da infância não podiam entrar diretamente na intenção essencial desta obra. Contudo, a minha vontade é tentar permanecer fiel à minha promessa (cf. premissa ao 1º volume) e apresentar mais um pequeno fascículo sobre essa temática, se me for dada ainda a força para isso».
No primeiro volume tinha tratado um olhar sobre o ministério de Jesus (do Batismo à Transfiguração) em 10 capítulos: 1. O Batismo de Jesus; 2. As tentações de Jesus; 3. O evangelho do reino de Deus; 4. O discurso da montanha; 5. A oração de Jesus; 6. Os discípulos; 7. A mensagem das parábolas; 8. As grandes imagens joaninas; 9. Os dois momentos importantes no caminho de Jesus: a confissão de Pedro e a transfiguração; 10. As afirmações de Jesus sobre si mesmo.
O segundo volume examinou em 9 capítulos o itinerário desde a entrada em Jerusalém até à Ressurreição e com um acrescento a que chamou perspetivas (subiu aos céus, onde está sentado à direita do pai, e de novo há-de vir em sua glória): 1. Entrada em Jerusalém e purificação do templo; 2. O discurso escatológico de Jesus, 3. O lava-pés; 4. A oração sacerdotal de Jesus; 5. A última ceia; 6. Getsémani; 7. O processo de Jesus; 8. A crucifixão e a deposição de Jesus no sepulcro; 9. A ressurreição de Jesus da morte.
Bento XVI diz ainda que procurou interpretar em diálogo com os estudiosos da Bíblia (os exegetas) do passado e do presente o que Mateus e Lucas narram da infância de Jesus. De facto, o autor cita 28 biblistas, conforme as referências bibliográficas e afirma: «No caso de um texto como o da Bíblia, cujo autor último e mais profundo – segundo a nossa fé – é o próprio Deus, a questão sobre a relação do passado com o presente faz parte, inevitavelmente, da própria interpretação. Assim fazendo, não diminui a seriedade da pesquisa histórica, mas aumenta-a» (pags 7-8).

1.      Articulação do livro
O livro articula-se em 4 capítulos com um prefácio e um epílogo. O presente best seller do Papa está 9 línguas em simultâneo e será ainda traduzido em 20 línguas. Na edição portuguesa aparece com 112 páginas.
Partindo do evangelho de João e da pergunta que Pilatos faz a Jesus: «donde és tu?» (Jo 19,9), à qual Jesus ficou calado, abre-se neste livro a investigação acerca da origem de Jesus, do seu ser e da sua missão.
O anúncio do nascimento de João Batista e de Jesus ocupam a reflexão do segundo capítulo. Segundo o Papa: «Mateus e Lucas – cada um à sua maneira – queriam não tanto narrar “historiais”, mas escrever história: história real, sucedida, embora certamente interpretada e compreendida com base na palavra de Deus» (pag. 21).
O terceiro capítulo trata do nascimento de Jesus. A chave hermenêutica da historicidade acompanha todo o texto, como se lê: «Jesus não nasceu nem apareceu em público naquele indefinido “uma vez” típico do mito; mas pertence  a um tempo, que se pode datar com precisão, e a um ambiente geográfico exatamente definido; o universal e o concreto tocam-se mutuamente» (pag. 58).
No longo quarto capítulo estuda a questão dos magos do Oriente e a fuga para o Egito. Os magos representam a dinâmica da busca da verdade que a humanidade encontra em Cristo.
O epílogo apresenta o mistério de Jesus com 12 anos no Templo de Jerusalém.
O método usado concilia a interpretação histórica com a interpretação teológica – Jesus Cristo real com o Jesus histórico – numa interação entre história e fé.

2.      A anunciação a Maria
É grande o que diz sobre Maria: «é a obediência de Maria que abre a porta a Deus» (pag. 51).
«Só ela podia referir o evento da anunciação, que não tivera testemunhas humanas». (pag. 20). Nos textos da anunciação, a alegria aparece como o dom próprio do Espirito Santo. «“Alegra-te, ó cheia de graça”. Esta ligação entre alegria e graça é outro aspeto digno de consideração, na saudação khaire, em grego, as duas palavras – alegria e graça (khara e kharis) – são formadas a partir da mesma raiz. Alegria e graça andam juntas». (pag. 30).
«A própria fé de Maria é uma fé “a caminho”» (pag. 105). «Maria aparece não só como a grande crente, mas também como a imagem da Igreja, que guarda a Palavra no seu coração e a transmite» (pag. 105).
Deus é simples e «o sinal da Nova Aliança é a humildade, a vida escondida: o sinal do grão de mostarda. O Filho de Deus vem na humildade. Os dois elementos andam juntos: a profunda continuidade na história da ação de Deus e a novidade do grão de mostarda escondido» (pag. 24).

3.      A figura de S. José, o justo e fiel
É notável o traço teológico e espiritual que faz de José. O anjo a José só aparece em sonho «mas num sonho que é realidade e revela realidade. Mais uma vez é-nos apresentado um traço essencial da figura de São José: a sua perceção do divino e a sua capacidade de discernimento» (pag. 39). José é «aquele que escuta e é capaz de discernimento, como aquele que é obediente e ao mesmo tempo decidido e criteriosamente pragmático» (pag. 96).

4.      A primeira Páscoa e a Páscoa definitiva (Natal-Páscoa)
«O parto virginal e a ressurreição real do túmulo – são verdadeiro critério da fé» (pag. 51).
«Quanto mais uma pessoa se aproxima de Jesus, mais envolvida fica no mistério da sua Paixão» (pag. 103).
«As palavras de Jesus nunca cessam de ser maiores do que a nossa razão; superam, sempre de novo, a nossa inteligência… Crer significa submeter-se a esta grandeza e crescer pouco a pouco rumo a ela» (pag. 105).

Concluo, a breve apresentação deste livro encantador e desafiante, com as palavras de S. Bento: «nada, absolutamente nada anteponham a Cristo». Bento XVI, que escolheu como patrono do seu pontificado S. Bento, continua com mais este texto precioso a mostrar os mistérios de Cristo. Em jeito de confidência, quando saudei o Santo Padre após a nomeação para Bispo de Bragança-Miranda, disse-lhe que S. Bento era o padroeiro da nossa Diocese, a única na Península Ibérica sob este padroado, e ele respondeu-me. «Então, estamos ainda mais unidos».
Boa noite e obrigado pela vossa atenção e paciência.

                                                                                              + José Cordeiro"


sábado, 8 de dezembro de 2012

A Infância de Jesus


A infância de Jesus é o tema abordado no último livro lançado pelo Papa Bento XVI e apresentado ontem em Bragança por D. José Cordeiro, bispo diocesano, que, ao mesmo tempo, fez como que uma introdução à primeira aula de Liturgia no âmbito do curso de Ciências Pastorais do reativado Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP).
Segundo D. José, esta obra do Papa Bento XVI, Joseph Ratzinger, é um precioso contributo para a vivência do Advento, fruto de uma pesquisa pessoal bastante aprofundada e que se insere numa espécie de conjunto tríptico da história de Jesus, num sentido de leitura teológica, como fizeram outros grandes teólogos.
A Infância de Jesus surge, assim, como um pequeno "pórtico" ou "sala de estudo" cujo tema central é a verdade da fé: Jesus é plenamente homem e plenamente Deus. Recorde-se que o primeiro livro deste "tríptico" é um olhar sobre o ministério de Jesus desde o Batismo à Transfiguração e o segundo sobre o itinerário de Jerusalém à Ressurreição.
A intenção do Papa é, assim, ressituar a leitura da Bíblia e a leitura teológica da mesma. É na Liturgia que a Escritura passa a ser Palavra de Deus, devendo ler-se a partir de Jesus Cristo. Aliás, todos os 72 livros da Sagrada Escritura se resumem a Jesus de Nazaré e o Papa usa essa ideia começando a obra a partir do mistério da Páscoa, pois só aí é inteiro. O Natal, que só passou a celebrar-se a partir do século IV, é manipulável, é uma data em que, por vezes, fazemos Deus à nossa imagem. Neste aspeto, esta obra não vem dizer nada de novo e muitos dos aspetos que têm sido realçados como "maiores", não passam de detalhes.
A infância de Jesus trata de uma criança mas é um livro para adultos, adultos na fé. É um livro de investigação acerca de Jesus que parte dos Evangelhos de Mateus e de Lucas, Evangelhos que são história. Esse é um dos aspetos que distingue o Cristianismo - Deus fez-se homem, não filosofia ou teologia, e este é o maior desconcerto da fé. A história de Jesus não é o "era uma vez", aconteceu mesmo, num tempo geográfico, tocando o universal e transcendente.
Esta é, portanto, uma obra que concilia harmoniosamente a história e a fé.

A Anunciação a Maria

Há um capítulo do livro que é dedicado a este tema. D. José quis destacar a obediência de Maria na abertura a Deus, mas também Deus que esperou a resposta de uma rapariga. O eterno, o "kairos", beijou o tempo no seio de Maria e isto é interessante porque, muitas vezes, as pessoas pensam Deus de uma forma quase irracional e "caricaturada", um Deus em que não se pode acreditar. A pretensão do homem é ser Pai de Deus quando o conceito de fraternidade, tão propagado pela Revolução Francesa, ao pressupor que somos todos irmãos, pressupõe que temos um mesmo Pai - e isto é uma questão de inteligência, embora Deus ultrapasse a nossa inteligência.
Na verdade, só Maria podia testemunhar a Anunciação pois só Ela a viveu. É como que uma nova Criação, ao sexto mês, numa correspondência com o sexto dia - criação do homem.
A alegria aparece aqui como um dom do Espírito Santo.A alegria de Maria era uma fé a caminho. A Sua vida é uma peregrinação na fé. Maria aparece como a grande crente. E Deus é simples, dá-nos assim um sinal da Nova Aliança, na alegria. Mas esta é uma pequena semente, como um grão de mostarda, idêntico ao que as irmãs um dia ofereceram a D. José.
Por vezes, queremos ver tudo construído rapidamente, esquecemos que o tempo de Deus não é o nosso tempo, é um grão de mostarda. É preciso semear muito para colher algo. Também a Igreja começou numa crise de esperança em que a atitude de Jesus foi como um grão de mostarda escondido, escondido, ainda por cima! Exige a nossa colaboração, o mais difícil pois achamos que já fazemos tanto e fazemos tão pouco. Mas se abrirmos a porta a Deus estamos a abrir a porta a nós próprios, ainda que seja difícil. 
Não esqueçamos que Maria foi uma mulher corajosa, pois se José não correspondesse, seria apedrejada até à morte, assim eram as leis na Mesopotâmia. 

José

José nem sempre é lembrado e tem um papel primordial e dá um exemplo que devemos ter sempre presente na nossa vida. Também ele foi corajoso, mostrando profundidade espiritual. Tinha razões para não aceitar Maria, estava protegido pela lei e todos estariam do seu lado, contra Maria.
José é visitado por um anjo em sonhos, mas num sonho que é realidade. José é obediente, decidido e pragmático. Recorde-se que São José, por persistência do Papa João XXIII, é padroeiro do Concílio Vaticano II, tendo daí surgido a oração a São José.

Relação do Natal e da Páscoa

Tanto na virgindade de Maria como na ressurreição de Jesus o critério de fé baseia-se na Páscoa e o seu mistério é todo o mistério de Jesus. Jesus Cristo é a plenitude. As Suas palavras ultrapassam a nossa inteligência. 
Algumas pessoas acomodam-se na "santa ignorância", o "oitavo sacramento" se assim quisermos. Devemos fazer tudo ao nosso alcance para criar esta oportunidade de ter uma fé esclarecida e convita, que se compromete com a vida, para lhe dar sentido. Não se chega lá só pela perceção inteletual, é preciso praticar com os outros, dando razões da nossa esperança. A fé são gestos e esperança, não apenas palavras. A esperança não é apenas uma ideia, a esperança é uma pessoa, é Jesus Cristo. Só esta fé transforma o coração e a vida e não apenas conjunturas inteletuais. 
"Não temos ouro, nem prata, mas temos a Esperança em pessoa para oferecer - Jesus Cristo". Não são teorias, é o Mistério, não é um enigma.
O Natal tem uma influência franciscana importante em que a representação do presépio, iniciada por São Francisco de Assis, veio sublinhar a humanidade de Jesus Cristo, com a encenação ao vivo e a participação de animais, levado quase a um exagero. Não é preciso por tudo isto de lado, podemos e devemos continuar a promover esta pastoral do Natal, mas sem esquecer que sem Páscoa, sem Eucaristia, não há Natal.
Tem que haver uma integração num único Mistério - Jesus Cristo.
A Páscoa é um sacramento, o Natal é uma celebração. Devemos procurar celebrar num ciclo de um ano a vida de Jesus a começar pela Anunciação, Nascimento, Páscoa e Ressurreição. 
Temos de desmistificar e centrarmos-nos em Jesus Cristo e na historicidade. O relato dos discípulos de Emaús é a prova da Ressurreição, eles convenceram-se que era verdade e deram a vida. Temos também nós de ser coerentes e seguir esse exemplo.
Faltam adultos que testemunhem os valores e que testemunhem de forma credível. Esta tem sido uma das falhas da Igreja. É preciso evangelizar e redescobrir a fé. O problema nem está na formação, está na missão, na atitude da missão. É preciso provocar a inquietação e não apenas ir à missa ao Domingo, isto não é o suficiente. É preciso aprofundar as razões da fé e passar o testemunho. A fé, antigamente, dizia-se até, transmitia-se pelo leite materno, aprendia-se em casa o Credo, aprendia-se em casa, na igreja e na escola. É preciso promover a interdisciplinariedade e criar um ambiente de fé.
O importante, acima de tudo, é semear o grão de mostarda para que ele esteja lá. Pode-se cair do cavalo, pela vida, mas esse não é o processo natural de Deus.
Quantos de nós vivemos a nossa vida à luz do Evangelho? É preciso viver um cristianismo convito e não apenas sociológico. Viver à luz do Evangelho é viver de acordo com os valores da doutrina social cristã. 
Faltam adultos que testemunhem os valores humanos e cristãos. Herdamos a Igreja que temos, mas que Igreja vamos deixar? A Igreja tem de dialogar com as outras estruturas, a Liturgia tem de ser bem preparada para transmitir beleza e simplicidade. 
Os leigos também precisam de estar bem preparados porque depressa passamos da fé à ideologia, embora seja fácil saber até onde vai a nossa missão, cada um deve fazer tudo e só o que lhe compete. Tem de haver diversidade, exigência e não apenas rituais. A liturgia é uma ética e é, por isso, espiritualidade. Se não estiver convencido, como posso ajudar outros à conversão? Posso facilitar o caminho a outros se eu já me encontrei para testemunhar, mas ninguém dá aquilo que não tem.
É, por isso, curioso pensar que a Igreja nunca esteve tão bem na sua história, mas não é aqui que está bem. Não temos a mesma pujança de fé, envergonhamos-nos perante outras comunidades espalhadas pelo mundo. Isto tem de nos interrogar. É preciso testemunhar melhor, com autenticidade e inteireza de ter descoberto a felicidade e o máximo das nossas vidas.

Texto baseado na reflexão de D. José Cordeiro, bispo da diocese de Bragança-Miranda

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

História da Igreja: “Acção e influência dos monges de S. Bernardo no Nordeste-Transmontano (SS. XII-XVI), partindo de Santa Maria de Moreruela, em Leão.” De António Maria Mourinho

Este artigo foi escrito no âmbito das comemorações do nonicentenário do nascimento de S. Bernardo, monge cisterciense, grande propagador da Ordem e defensor da Igreja. Após o Tratado de Zamora, em 1143, celebrado entre Afonso VII, Imperador de Leão e Castela e seu primo Afonso Henriques chegam a Castela Pedro e Sancho, dois monges cistercienses franceses, enviados por S. Bernardo a pedido de Afonso VII. Por toda a Europa, a instalação de monges cistercienses era vista como uma cruzada ocidental com carácter colonizador (havia a necessidade urgente e simultânea de ocupar, desbravar, arrotear e repovoar cristãmente grandes zonas férteis de territórios pouco ou nada povoados) e Afonso VII doa terrenos e concede privilégios, a estes monges, em territórios de Zamora para nele construam um mosteiro e vivam em comunidade com o resto dos seus companheiros. Surge o Mosteiro de Santa Maria de Moreruela, localizado num vale, na margem esquerda do Elba a 30 Km noroeste de Zamora, que vai albergar uma grande comunidade monacal que irá influenciar económica e culturalmente uma grande extensão de territórios, nomeadamente terras de Zamora, Leão, Valladolid, Salamanca e a partir de 1211 o Nordeste Português (terras de Miranda, Macedo de Cavaleiros, Bragança e Mirandela). Após esta data e durante três séculos o Mosteiro adquiriu e recebeu doações de propriedades em mais de 23 povoações e quintas portuguesas, tendo três povos em posse absoluta (Ifanes, Angueira e Caçarelhos). Durante este tempo de convivência, com os monges cistercienses, as populações destas terras foram sendo influenciadas pelo seu modo e filosofia de vida. O autor, do artigo, enumera essas influências ainda visíveis nos dias de hoje:
1.ª A monumentalidade granítica, simples e despida das igrejas e capelas paroquiais; 
2.ª Os portais principais das mesmas igrejas, de arcos apontados ou de meio ponto e com arquivoltas lisas; 3.ª A promoção da exploração do ferro pele Mosteiro e a sua manipulação na forja; 
4.ª A fabricação intensiva e extensiva das lãs regionais, transformadas em mantas e buréis para vestuário e uso doméstico (Capa de Honras);
5.ª A Língua Mirandesa, tradição viva de Moreruela;
6.ª As imagens dos grandes Cristos crucificados, em tamanho natural, de corpos extremamente sofredores e torcidos, ainda conservados em algumas igrejas mirandesas; 
7.ª Os grandes soutos de castanheiros centenários que se vislumbras no montes desta região; 
8.ª A profunda religiosidade cristã, sobretudo na expressão do culto mariano, da intensa devoção à Santa Cruz e às Paixão de Cristo e das Amas do Purgatório e todo o culto dos mortos. 

Exposição apresentada por Ivone Brás, no âmbito da disciplina de História da Igreja, no IDEP

sábado, 24 de novembro de 2012

História da Igreja - Igreja de São Salvador de Ansiães

Ainda dentro do mesmo tema, fica uma parte do documentário "A alma e a gente", do grande historiador José Hermano Saraiva, sobre a Igreja de São Salvador de Ansiães:
A Alma E A Gente - Carrazeda De Ansiães (parte 1) por Videos_Portugal

História da Igreja - trabalho sobre a Igreja de São Salvador de Ansiães

O nosso colega de Estudos Pastorais - José António Fonseca - fez um trabalho sobre a Igreja de São Salvador de Ansiães, no âmbito da disciplina de História da Igreja. O tema foi proposto pelo professor Pe. José Luís Amaro e apresentado durante a aula numa relação com a Idade Média e a história da Igreja nessa altura Esta igreja é considerada uma jóia da arquitectura românica em Portugal, graças a elementos de grande valor e originalidade. É o caso da iconografia de Cristo em Majestade no portal principal, que constitui o mais complexo exemplar deste estilo no nosso país. Nela destacam-se ainda as representações dos apóstolos, bem como outras duas enigmáticas figuras que poderão tratar-se de Judas (carregando ao colo o demónio) e, do outro lado, um ancião (talvez Moisés) com as Tábuas da Lei. Mais pormenores no trabalho do nosso colega:

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

História da Igreja - trabalho

O prazo de entrega do trabalho de História da Igreja, fundamentado no resumo de um capítulo do livro "Igreja no Tempo, breve história da Igreja", de D. Manuel Clemente, acaba amanhã. Fiz um vídeo relativo aos primeiros três séculos mas como excede o tamanho permitido para o envio de e-mails, vou colocá-lo aqui online:

Os professores

Achei por muito tempo que ia ser professor. Tinha pensado em livros a vida inteira, era-me imperiosa a dedicação a aprender e não guardava dúvidas acerca da importância de ensinar. Lembrava-me de alguns professores como se fossem família ou amores proibidos. Tive uma professora tão bonita e simpática que me serviu de padrão de felicidade absoluta ao menos entre os meus treze e os quinze anos de idade. A escola,como mundo completo, podia ser esse lugar perfeito ... Ver maisde liberdade intelectual, de liberdade superior, onde cada indivíduo se vota a encontrar o seu mais genuíno, honesto, caminho. Os professores são quem ainda pode, por delicado e precioso ofício, tornar-se o caminho das pedras na porcaria de mundo em que o mundo se tem vindo a tornar. Nunca tive exatamente de ensinar ninguém. Orientei uns cursos breves, a muito custo, e tento explicar umas clarividências ao cão que tenho há umas semanas. Sinto-me sempre mais afetivo do que efetivo na passagem do testemunho. Quero muito que o Freud, o meu cão, entenda que estabeleço regras para que tenhamos uma vida melhor, mas não suporto a tristeza dele quando lhe ralho ou o fecho meia hora na marquise. Sei perfeitamente que não tenho pedagogia, não estudei didática, não sou senão um tipo intuitivo e atabalhoado. Mas sei, e disso não tenho dúvida, que há quem saiba transmitir conhecimentos e que transmitir conhecimentos é como criar de novo aquele que os recebe. Os alunos nascem diante dos professores, uma e outra vez. Surgem de dentro de si mesmos a partir do entusiasmo e das palavras dos professores que os transformam em melhores versões. Quantas vezes me senti outro depois de uma aula brilhante. Punha-me a caminho de casa como se tivesse crescido um palmo inteiro durante cinquenta minutos. Como se fosse muito mais gente. Cheio de um orgulho comovido por haver tantos assuntos incríveis para se discutir e por merecer que alguém os discutisse comigo. Houve um dia, numa aula de história do sétimo ano, em que falámos das estátuas da Roma antiga. Respondi à professora, uma gorduchinha toda contente e que me deixava contente também, que eram os olhos que induziam a sensação de vida às figuras de pedra. A senhora regozijou. Disse que eu estava muito certo. Iluminei-me todo, não por ter sido o mais rápido a descortinar aquela solução, mas porque tínhamos visto imagens das estátuas mais deslumbrantes do mundo e eu estava esmagado de beleza. Quando me elogiou a resposta, a minha professora contente apenas me premiou a maravilha que era, na verdade, a capacidade de induzir maravilha que ela própria tinha. Estávamos, naquela sala de aula, ao menos nós os dois, felizes. Profundamente felizes. Talvez estas coisas só tenham uma importância nostálgica do tempo da meninice, mas é verdade que quando estive em Florença me doíam os olhos diante das estátuas que vira em reproduções no sétimo ano da escola. E o meu coração galopava como se estivesse a cumprir uma sedução antiga, um amor que começara muito antigamente, se não inteiramente criado por uma professora, sem dúvida que potenciado e acarinhado por uma professora. Todo o amor que nos oferecem ou potenciam é a mais preciosa dádiva possível. Dá -me isto agora porque me ando a convencer de que temos um governo que odeia o seu próprio povo. E porque me parece que perseguir e tomar os professores como má gente é destruir a nossa própria casa. Os professores são extensões óbvias dos pais, dos encarregados pela educação de algum miúdo, e massacrá-los é como pedir que não sejam capazes de cuidar da maravilha que é a meninice dos nossos miúdos. É como pedir que abdiquem de melhorar os nossos miúdos, que é pior do que nos arrancarem telhas da casa, é pior do que perder a casa, é pior do que comer apenas sopa todos os dias. Estragar os nossos miúdos é o fim do mundo. Estragar os professores, e as escolas, que são fundamentais para melhorarem os nossos miúdos, é o fim do mundo. Nas escolas reside a esperança toda de que, um dia, o mundo seja um condomínio de gente bem formada, apaziguada com a sua condição mortal mas esforçada para se transcender no alcance da felicidade. E a felicidade, disso já sabemos todos, não é individual. É obrigatoriamente uma conquista para um coletivo. Porque sozinhos por natureza andam os destituídos de afeto. As escolas não podem ser transformadas em lugares de guerra. Os professores não podem ser reduzidos a burocratas e não são elásticos. Não é indiferente ensinar vinte ou trinta pessoas ao mesmo tempo. Os alunos não podem abdicar da maravilha nem do entusiasmo do conhecimento. E um pais que forma os seus cidadãos e depois os exporta sem piedade e por qualquer preço é um país que enlouqueceu. Um país que não se ocupa com a delicada tarefa de educar, não serve para nada. Está a suicidar-se. Odeia e odeia-se. V.H.Mãe

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

História das Religiões

Propostas para o Ano da Fé, por D. José Cordeiro


O bispo de Bragança-Miranda, D. José Manuel Cordeiro, acaba de lançar um novo livro com doze propostas para ajudar os fiéis a viverem melhor o Ano da Fé que a Igreja Católica está a promover. 
A obra, intitulada “Fé acreditada, Fé rezada”, procura contribuir para uma crença católica “próxima do ritmo litúrgico e esperançosamente inscrita na vida quotidiana”. 
As sugestões incluídas na publicação “tanto podem ser seguidas integralmente como servir de apoio e inspiração às dinâmicas celebrativas dos diversos grupos e comunidades eclesiais”, acrescenta. 
O projeto de D. José Cordeiro, com a chancela da editora PAULINAS, vai ser posto à venda em Bragança na próxima semana, na Casa de Santa Clara (mais conhecida por Casa do Arco). 
No lançamento do Ano da Fé na sua comunidade, a 14 de outubro, o bispo sublinhou a necessidade de “educar” as pessoas para a “participação” na liturgia, considerando este objetivo “um enorme desafio” para a Igreja. 
O especialista em Liturgia salientou ainda que “a espiritualidade não se ensina, aprende-se e experimenta-se”, incentivando os fiéis a uma maior atenção ao cumprimento dos sacramentos, que “têm a função de santificar, de edificar a Igreja”, à “oração”, sinal da “relação com Deus vivo e verdadeiro” e à prática da “caridade, elemento imprescindível para a verdade do culto cristão”. 
Nesse âmbito, o prelado apresentou três obras, uma dedicada aos mais novos, “Youcat, orações para jovens”, outra intitulada “Liturgia, a primeira escola da fé”, e uma terceira sobre o 50.º aniversário da abertura do Concílio Vaticano II (1962-1965), “Vaticano II, 50 anos, 50 olhares”. 
Com o livro “Fé acreditada, Fé rezada”, D. José Cordeiro remete os fiéis para temáticas como o crescimento na fé, a importância do “testemunho credível” e “a novidade da Páscoa”. 
O Ano da Fé, convocado por Bento XVI, teve início no dia 11 de outubro, no cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II e vinte anos após a publicação do Catecismo da Igreja Católica, e vai decorrer até novembro de 2013.

sábado, 17 de novembro de 2012

Revelação e Fé: apontamentos III


Os Milagres de Jesus:significado para a fé dos contemporâneos de Jesus; o que é um milagre; o significado na vida actual; a ideia do milagre e a conceção do mundo e da ciência moderna; como explicar a um não crente.
Um milagre causa admiração porque é um mistério, exige fé. Para acolher um milagre é preciso ter fé e exige-se mudança e conversão. Jesus, quando passava em algumas localidades, não fazia milagres porque as pessoas não tinham fé. O milagre é um gesto de poder, um sinal de Deus aos homens. A palavra milagre vem do grego “semeion” e significa sinal.
Tem três características fundamentais: natureza extraordinária e natureza divina; significado e carácter de sinal; contexto de fé em que acontece.
O milagre nunca é puramente objetivo, é sobretudo um sinal para a fé. É mais do que um prodígio. Um sinal pretende significar algo a alguém, criar uma relação. Através dele, Deus faz um apelo à salvação, para que acreditem.
É preciso que haja predisposição e abertura de fé ao milagre. A fé é uma opção fundamentada mas livre. O milagre é um sinal que pretende suscitar e fortalecer a fé.
Na vida de Jesus, muitos, vendo os seus milagres, continuaram a não acreditar nele. Um dos segredos messiânicos é que Jesus faz os milagres onde há predisposição da fé e diz: “não conteis a ninguém”, pois não quer passar por um curandeiro, quer antes transmitir uma mensagem ao mundo.
Os milagres de Jesus são sinais do reino messiânico anunciado e iniciado por Jesus, cumprimento da promessa que conduz todo o Antigo Testamento e que se concretiza no Novo Testamento.
Outros esperavam um Messias que vingasse o povo de Israel e Jesus não correspondia porque a sua mensagem é Amor. Jesus não se deixou influenciar e seguiu sempre o seu caminho. Os milagres manifestam em Jesus o poder de Deus, são sinais de amor de Deus presente e atuante em Jesus, que garantem a autoridade como Messias e antecipam a ressurreição de Jesus, sinal da Nova Humanidade e do Reino Escatológico. É um sinal complexo e polivalente para suscitar, confirmar e fortalecer a fé.
Sem a fé na Ressurreição a fé seria em vão, tudo perderia sentido.

Em síntese:
·         sinal do amor redentor e restaurador de Deus;
·         sinal da vitória última e definitiva de Deus sobre o mal;
·         sinal da vinda do reino de Deus escatológico e definitivo;
·         sinal da glória de Jesus e confirmação da sua vinda messiânica;
·         sinal do grande e último sinal: a ressurreição de Jesus e a sua confirmação definitiva.

Mistério Pascal – vem do hebraico “pesha”, significa passagem. Pode ser entendido num sentido estrito: Paixão, Morte e Ressurreição; e num sentido amplo – a Ascensão, a Glorificação e o Pentecostes.
No mistério a vida de Jesus há dois momentos essenciais: a cruz e a vida nova. Significado salvífico e redentor, significado revelador.
Deus revela-se na história e salva-nos. A revelação não significa apenas a transmissão de conhecimentos, mas a comunhão de vida, a salvação.
Quando Jesus se proclama Messias Rei e fala com Deus como Pai, levanta problemas ao povo de Israel, pois a intimidade com Deus era impensável. Estes são motivos que o levam à condenação.
A sua ressurreição veio provocar a reflexão. Os apóstolos reflectiram em tudo o que Jesus tinha feito e dito e no que tinha acontecido e começaram a escrever, dando origem ao Novo Testamento. A ressurreição abriu o espírito dos discípulos, pois a reflexão levantou várias questões: quem é o ressuscitado; quem é o crucificado; qual o significado da cruz; qual o significado da sua morte.
Jesus defendeu novos valores e estilos de vida, anunciou o reino de Deus, contou parábolas, fez milagres. Nasceu da virgindade de Maria e foi baptizado por João.
O mistério pascal é o momento revelador de Deus no seio da história humana, é a resposta ao sentido da vida, da história do homem e do universo.

Revelação e Fé: apontamentos II


Jesus de Nazaré como um Messias diferente
Profeta: alguém autorizado e enviado por Deus que profere e proclama a sua Palavra.
Era esperado um profeta singular, único, de tanta importância como o próprio Moisés. O perfil deste profeta vai-se identificando com a figura futura e enigmática do Messias Jesus. Em muitos aspectos identifica-se e aproxima-se dos anteriores profetas de Israel.
É tradicional porque anuncia a Palavra como os profetas do Antigo Testamento e vai dando sinais para anunciar a Palavra – gira em volta da Aliança Prometida e do reino de Deus esperado.
É inovador porque é o profeta que todos esperavam, Nele se realiza toda a Escritura.
Leva uma vida típica de um mestre e pregador itinerante, calcorreando a Palestina.
Onde está o espírito profético? Ainda há profetas?
Pelo baptismo todos somos profetas, temos como missão a responsabilidade da Palavra. Cada cristão é a boca de Deus no mundo e há uma enorme falta de consciência do que somos.

Jesus como Rei
A esperança num Messias concretizava-se na descendência de David, seria um seu descendente o rei de Israel (São Mateus, São Lucas – Genealogias de Jesus). Jesus atingiu importância logo no seu nascimento. Vieram os Magos prestar-lhe homenagem. Mas a realeza de Jesus manifesta-se diferente e oposta à realidade em geral – Jesus de Nazaré é um rei pobre, generoso, não violento, anunciador de misericórdia e da dignidade humana. Convive com a escória da humanidade, é um verdadeiro Rei mas um Rei diferente, não é um rei em competição com os reis deste mundo.
Os milagres de Jesus manifestam-No como Senhor e Rei da própria Natureza.
Pelo baptismo e confirmação todo o cristão participa da realeza de Jesus e é chamado a construir, pelo seu serviço, o reino de Deus na Terra, já iniciado em Jesus mas não consumado.

Jesus como sacerdote
Sacerdote é um membro da comunidade humana concreta que em nome e representação pública e oficial tem a seu cargo assegurar as relações com Deus.
O sacerdote representa a comunidade perante Deus e ao mesmo tempo entre Deus e os homens. A mediação é exercida através da oferta de dons a Deus e a distribuição ao homem dos dons de Deus.
Neste sentido, encontramos a instituição sacerdotal presente ao longo de toda a história de Israel. O que distingue o sacerdote é o sacrifício, a ação sagrada em nome da comunidade. O sacrifício implica o sacerdote, a vítima oferecida a Deus, o pão, o vinho e a própria oração de louvor. Tudo isto se verifica em Jesus Cristo.
O sacerdócio comum é dado pelo baptismo e pela confirmação de todos os que participam no sacerdócio de Jesus Cristo.
O sacerdócio ministerial é dado pelo sacramento da ordem.

A Boa Nova do Reino, mensagem de Jesus
O reino de Deus é o total domínio do amor, da justiça e da paz, é o início da renovação universal e da natureza, da história e do homem. É uma realidade profundamente divina e também humana, é uma resposta de Deus à interrogação, à busca e à situação do homem.
A Boa Nova trazida por Jesus é o Amor. É uma oferta gratuita o dom que Deus faz aos homens no seu filho Jesus, dom da nova vida, vida eterna e vida divina. Acolher a Boa Nova é acolher Jesus.

O Reino de Deus e o tempo
Jesus anunciou: o tempo chegou ao seu termo e o reino de Deus está próximo. O tempo tem valor definitivo e eterno. A vida terrena tem significado definitivo e eterno na Parousia – última vinda de Messias no fim do tempo humano. Somos o que fazemos ou seremos o que fizermos.
O Reino de Deus está em crescimento.

Revelação e Fé: apontamentos

Grandes momentos da Aliança de Deus com o povo de Israel



Antigo Testamento
Novo Testamento
Mediador
Abraão, Moisés, David
Jesus Cristo
Lei
Dez Mandamentos
Mandamento do Amor
Comunidade, povo
Israel
Igreja, Nova Israel
Sacrifício
Ceia pascal
Eucaristia
Vítima
Cordeiros, novilhos
Cordeiro de Deus
Libertação
da escravidão do Egito
da escravidão do pecado
Alimento
Maná
comunhão
Caminho
Deserto
Vida quotidiana
Sinal
Circuncisão
batismo
Termo
“terra prometida”
Casa do Pai, Céu

História da Igreja: Cristianismo nas Ilhas Britânicas


O Papa Gregório Magno, monge beneditino, (540-604), foi responsável pelo envio dos primeiros missionários para converter os anglo-saxões nas Ilhas Britânicas. Enviou um grupo de 40 monges beneditinos, liderados por Agostinho de Cantuária, que seria o primeiro arcebispo da Cantuária, na chamada Missão gregoriana.
Deixou extensa obra escrita, incluindo sermões e comentários sobre a Bíblia, como o livro Moralia, que comenta o livro de Jó, e volumes de correspondência.
Também foi responsável pela compilação dos sete pecados capitais - a soberba, a avareza, a inveja, a ira, a luxúria, a gula e a preguiça - adaptando para o Ocidente a partir das oito tentações descritas pelo monge Evágrio do Ponto, dois séculos antes.
A figura do abade tem grande peso na ordem beneditina, considerado o vigário de Cristo na Comunidade. Logo, a sua palavra tem que ser ouvida como se fosse a do próprio Deus. O abade vai ter na Regra beneditina um papel de consolador e encorajador, sobretudo relativamente aos que incorrem na pena de excomunhão por cauda da desobediência24. Aliás, esta ternura tão pouco habitual em regras anteriores, vai ser uma das principais características da Ordem, conferindo-lhe um sentido universal, destinada a todos os homens da Terra, misturando severidade e rigor com ternura, apoio e compreensão.
A Regra de São Bento ajudou a diluir a ideia defendida no início do séc. VI, e suportada por Santo Agostinho, segundo a qual era difícil que um bom monge se tornasse um bom clérigo. 
Com efeito, a Regra possibilitou a evolução e preparação dos monges, que inicialmente eram analfabetos na sua maioria, não tendo formação adequada para exercerem funções de presbíteros. A insistência numa vida em comunidade fechada - a estabilidade era um dos princípios bases da Regra-, produzia um tipo de monge mais civilizado que podia ser aproveitado para o clero secular após uma preparação adequada.
Quando São Bento faleceu, apenas três mosteiros abservavam as suas prescrições e trinta anos mais tarde o próprio mosteiro de Montecassino era destruído pelos Lombardos.
Ao ser eleito Papa, Gregório Grande, antigo monge beneditino, encarregou-se de propagar a Regra da sua Ordem tendo em mente dois objectivos bem definidos.
1. favorecer o monaquismo, na medida em que era melhor para a expansão do Cristianismo;
2. desenvolver uma legislação unificada sobre a qual poderia exercer maior controle.
No final do seu pontificado já uma grande rede de mosteiros beneditinos cobria a Europa, entre os quais se salientaram as abadias de Jarrow, Malmesbury e Westminster, na Inglaterra, bem como as fundações antigas reconvertidas de Lérins e Marmoutier.
Gradualmente, e com o grande incremento dado por Gregório o Grande, o ideal beneditino foi-se espalhando e alicerçando tendo absorvido até a Regra de Columba, na Irlanda.
A Península Ibérica foi também influenciada pela corrente monástica que então se vivia na Europa.
De imediato ressaltam dois nomes: São Martinho de Dume, que na segunda metade do séc. VI trouxe à Galécia a doutrina do Monaquismo Oriental; de São Frutuoso de Braga, monge visigodo propulsor de um movimento ascético que sobreviveu à invasão islâmica, tendo composto uma Regra para monges e que mais tarde originou uma Regra comum.
No reino visigodo cristão vários Padres Hispânicos elaboraram Regras. Entre eles, salientaram-se São Leandro, com uma Regra para Virgens, dedicada a sua irmã Florentina, e Santo Isidoro, cuja Regra se destinou ao mosteiro Honorianense, na Bética.
A vida monástica na Hispânia estava subordinada aos prelados diocesanos-bispos, que tinham o direito não só de escolher o abade dos mosteiros mas também o de corrigir os excessos cometidos contra a Regra.
Este facto demarcou o monaquismo da Espanha goda do ideal beneditino, que impunha que o abade fosse eleito pela Congregação tendo a partir desse momento papel soberano sobre toda a comunidade.
No que se refere à província da Lusitânia, um dos seus mosteiros mais antigos foi o do Lorvão, segundo Fortunato de Almeida28, sendo provável que a sua fundação date de meados do séc. VI e que, a par dos mosteiros de Dume e de São Martinho de Tibães, constitui um marco importante da vida monástica em território que posteriormente viria a ser Portugal.
Irlanda
Ainda está por explicar a rápida difusão do Cristianismo na Irlanda, cuja bandeira exibe um trevo, numa referência a São Patrício.
A corrente monástica nas Ilhas Britânicas e, em especial, na Irlanda revestiu-se de características muito próprias que a demarcaram relativamente a outras regiões.
Com efeito, quando o Cristianismo espalhava a sua influência em ambas as margens do Mediterrâneo, a Inglaterra encontrava-se ainda sob o domínio de Roma. A lenda e a tradição falam das viagens à Bretanha (hoje Grã-Bretanha) de Paulo, Filipe e José de Arimateia, bem como da fundação cristã em Glastonbury. Contudo, tudo isto não passa de uma mera hipótese, à qual se vem juntar a ideia de que até mesmo entre os romanos, que se encontravam na Bretanha durante o período de ocupação, alguns podiam ter ouvido e aceitado a mensagem do Cristianismo30. A primeira menção a cristãos na Grã-Bretanha aparece no Tratado contra os Judeus (202), de Tertuliano, no qual se faz referência a zonas da Bretanha inacessíveis aos Romanos, mas onde já vigoravam os ensinamentos de Cristo.
Em 314, por ocasião do Concílio de Arles, três bispos representaram a Bretanha, o que denota já um avanço considerável da Igreja numa base diocesana. Anos mais tarde, em 359, alguns bispos britânicos estiveram presentes num dos maiores concílios da Igreja - o de Rimini, ainda que com uma fraca representação.
Com excepção para Santo Albano, que no dizer do Venerável Bede, é o primeiro cristão digno de registo na Bretanha, é a partir do séc. V que passa a ser possível distinguir as grandes personalidades no processo de cristianização das Ilhas Britânicas, e em especial da Irlanda. São Patrício surge então como responsável pela chamada "conversão da Irlanda", sendo reconhecido como herói nacional. Considerada uma ilha bárbara, a Irlanda nunca se integrou no Orbis Romanus. São Jerónimo referia-se aos seus habitantes em termos pouco lisonjeiros e o espírito irlandês sempre se manifestou de um modo muito particular, envolto numa auréola de mistério e magia.
São Patrício (387 — 17 de março de 461) foi primeiramente um missionário cristão, sendo depois sagrado bispo e santo padroeiro da Irlanda, juntamente com Santa Brígida de Kildare e São Columba. É considerado o Apóstolo da Irlanda.
Quando tinha dezesseis anos foi capturado e vendido como escravo para a Irlanda, de onde escapou e retornou à casa de sua família seis anos mais tarde. Iniciou então sua vida religiosa e retornou para a ilha de onde tinha fugido para pregar o Evangelho. Converteu centenas de pessoas, muitas delas se tornaram monges. Para explicar como a Santíssima Trindade era três e um ao mesmo tempo utilizava o trevo de três folhas e por isso o mesmo tem papel importante na cultura Irlandesa. Foi incentivador do sacramento da confissão particular, tal como conhecemos hoje, visto que antes o mesmo era realizado de forma comunitária. Um século mais tarde essa prática se propagou para o restante da Europa.
São Patrício tornou-se o “druida de Deus” ao converter com êxito os chefes das tribos, conseguindo difundir o monaquismo.
À medida que São Patrício viajava, eram fundados novos mosteiros, alguns deles tão grandes que incluíam alguns milhares de monges que aí se recolhiam com o principal objectivo de se prepararem para aumentarem o seu grupo baptizando novos monges. É a época do monge missionário, traço característico do monge celta, que quer levar o Evangelho a toda a parte, fazendo da sua vida uma "peregrinação" por Cristo.
Evangelizadores como São Patrício imbuíram de espírito cristão a cultura dominante sem aniquilar a sua matriz cultural.

Fonte: apontamentos da aula e http://www.ipv.pt/millenium/15_arq1.htm

História da Igreja: Monaquismo


O Monaquismo é um sistema de vida de consagração à causa divina, que tenta chegar a Deus passando pelo recolhimento e uma vida de dedicação e interiorização.
A esta palavra associa-se uma outra - monge -, que deriva do grego monos, (único, só). Etimologicamente, designa aquele que vive solitário, dedicando a sua vida ao serviço de Deus, dedicação essa assumida livremente e que pressupõe o cumprimento das normas estabelecidas numa Regra, baseando-se sempre nos conceitos de castidade, pobreza e obediência.
Embora tenha assumido formas diferentes, o Monaquismo tem sido uma constante na vida de várias religiões, à partida completamente díspares (ex: Monaquismo Budista versus Monaquismo Cristão), revelando-se acima de tudo como "algo universal e inerente à condição dos fiéis que pretendem desenvolver a sua vida espiritual no sentido da perfeição".
Desde os primórdios da Cristandade que os ideais livremente assumidos de virgindade e castidade em louvor do Reino de Deus foram motivo de admiração. Essa escolha era feita "por fiéis de ambos os sexos que abraçaram uma vida de plena imitação de Cristo e que, para além dos votos referidos, praticavam a oração e a mortificação paralelamente com obras de misericórdia".

História da Igreja: Vida nos mosteiros e o mosteiro de Castro de Avelãs


No mosteiro a obediência pautava-se pela disciplina e pelo horário. Quando tocava para a oração, deixavam o que estivessem a fazer para rezar.
A ociosidade é inimiga da alma e, por isso, os monges devem ocupar-se de trabalhos manuais e de leitura espiritual, insistia-se no cultivo da sabedoria.
É preciso lembrar que inicialmente o cristianismo era um fenómeno sobretudo urbano e que, a partir do século IV, devido ao contexto histórico e político, multiplicaram-se as paróquias rurais.
Bragança e o mosteiro de Castro de Avelãs
As primeiras referências a um povoado (pagus), antepassado toponímico de Bragança, surgem nas actas do Concílio de Lugo (569 d. C.) sob a designação de Vergancia. Posteriormente, já na divisão administrativa de Wamba (666 d. C.) surge já uma referência a Bregancia. Salvaguarde-se, contudo, que esta referência pode não corresponder toalmente à verdade um vez que a cópia das actas a que se teve acesso é de elaboração posterior, podendo ter sido alvo de interpretação.
O domínio de suevos e visigodos, acerca dos quais tão pouco se sabe, veio contribuir para que se acentuasse a ruralização da economia. Com efeito, supõe-se que alguns traços da vida pastoril e comunitária desta região se ficam a dever à ocupação destes invasores.
Finalmente, o último povo invasor: os mouros, a quem a tradição popular tende a atribuir uma grande soma de vestígios. Como foram os últimos “intrusos” e como foi marcante o ambiente de prolongadas lutas e conflitos entre a civilização cristã e a muçulmana, a memória dos povos islâmicos permaneceu no imaginário popular. São diversas as lendas e tradições que lhes atribuem muito do que deixaram os povos anteriores, sobretudo os romanos. Ainda que a toponímia pareça acusar a sua influência (Alfaião, Babe, Baçal, Bagueixe, Mogadouro, etc.) não foram encontrados vestígios materiais dos mouros que permitam comprovar a sua presença. Note-se que a influência da civilização islâmica parece ter sido pouco marcante nas regiões a norte do Douro e ainda menos relevante nestas áreas montanhosas do interior.

Mesmo sem aceitar a tese do ermamento, é bem provável que o actual Trás-os-Montes, bem como toda a região do Nordeste, tenha experimentado, no início do domínio muçulmano, uma acentuada rarefacção do povoamento. Devido ao movimento da Reconquista a região de Bragança, integrada que estava no reino das Astúrias (ou de Leão, como passa a ser conhecido a partir do século X), acaba por sofrer a influência leonesa, traduzida em alterações ao nível da economia, da organização eclesiástica, da arquitectura, da cultura e, até, da própria língua, cujas influências perduraram até à actualidade. Senão, repare-se nos falares mirandês e guadramilês. 
 (informação retirada do site da Câmara Municipal de Bragança)

Para mais informação ver cópias fornecidas pelo professor durante a aula e relativas ao bispado de Bragança durante o governo dos suevos e godos, das Memórias Arqueológico-Históricas do distrito de Bragança, Tomo I; bem como o documento “organização eclesiástica do espaço”, de Ana Maria Jorge; e “o mosteiro beneditino de São Salvador de Castro de Avelãs no povoamento da região de Bragança”, de Carlos Prada de Oliveira.


sexta-feira, 16 de novembro de 2012

História da Igreja - Nova Europa em reconstrução

Santo Agostinho de Hipona foi muito ativo  na luta contra o Priscilianismo

Idácio de Chaves foi uma figura importante, bispo num território que pertenceu à diocese de Chaves. Foi no Oriente, em Belém, que conheceu São Jerónimo, e quando regressou lutou contra os bárbaros suevos que, supõe-se, dominariam a nossa zona geográfica. Outra das suas preocupações foi a luta contra as heresias na “Crónica”, nomeadamente contra o Priscilianismo.
O Priscilianismo desenvolveu-se a partir do século IV, nomeadamente na Península Ibérica. Negava a Santíssima Trindade e atribuía a Cristo uma aparência de corpo. Condenavam o matrimónio e a alimentação de carne. Negavam a criação do mundo e a ressurreição de Cristo. Consideravam a alma parte da divindade. Falsificavam as Escrituras e serviam-se de livros apócrifos. Admitiam o fatalismo astrológico.

Bento de Núrsia foi outra figura importante nesta reconstrução. Nascido em Núrsia, na Itália, em 480, a sua vida é conhecida através dos Diálogos do Papa São Gregório Magno.
Filho de proprietários rurais, segundo alguns, teria uma irmã gémea chamada Escolástica. São Bento passou a juventude a estudar em Roma, mas retirou-se da vida da cidade para ir viver para uma comunidade de ascetas. Durante esses anos de solidão, amadureceu as suas ideias e, pela sua conduta, ganhou o respeito de todos à sua volta.
De tal forma que a morte de um abade de um mosteiro das redondezas, que alguns dizem ser de Vicovaro, fez com que a respetiva comunidade escolhesse São Bento como seu abade. Conhecendo a vida e a disciplina do mosteiro e alegando que a sua maneira de viver não estava de acordo com estas, São Bento recusou inicialmente mas, perante a insistência, acabou por dar o seu consentimento. A experiência falhou porque os frades não estavam habituados à maneira dura de viver do santo e tentaram envenená-lo, voltando São Bento para a sua gruta. Os seus milagres tornaram-se frequentes, a partir de então, e muitas pessoas atraídas pela sua santidade vieram viver para Subiaco. Fundou uma comunidade de monges distribuída por doze pequenos mosteiros, em cada um dos quais havia um monge superior e doze monges, mantendo-se o santo abade de todos eles. Nestes mosteiros começaram a funcionar escolas para crianças onde estudaram Mauro e Plácido. Em 529, transferiu-se com os seus monges para o Monte Cassino, onde escreveu a sua famosa Regra e atraiu muitos discípulos e simples fiéis até à data da sua morte com a sua santidade, a sua sabedoria e os seus milagres. Monte Cassino foi fundado no lugar de um antigo templo pagão dedicado a Apolo e São Bento juntou a sua comunidade num único edifício. Ao contrário de Subiaco, Monte Cassino era situado num distrito populoso, com várias dioceses e mosteiros, o que proporcionava o convívio e a visita de prelados, nobres e das restantes classes sociais, tornando-se o refúgio e a proteção dos pobres. Escolástica, a irmã de São Bento, visitava-o uma vez por ano e faleceu numa das visitas tendo vindo a ser enterrada no túmulo que São Bento tinha preparado para si próprio, em Monte Cassino, e onde também veio a ser enterrado. O corpo de São Bento foi trasladado para Fleury, em 693, tendo mais tarde o Papa Zacarias mandado trazer uma parte das suas relíquias para o Monte Cassino. São Bento era conhecido pela sua grande simpatia, carinho e por uma grande capacidade de sacrifício e dedicação à sua comunidade. A Regra de São Bento, escrita em latim vulgar, tem como fontes a Sagrada Escritura, os santos Pacómio, Basílio, Leão Magno, Jerónimo e Agostinho, entre outros. Foi redigida para os cenobitas e é atualmente seguida por Beneditinos, Cistercienses, Camáldulos e outros, tendo sido traduzida em Portugal pela primeira vez em Alcobaça, no século IV. Segundo alguns estudiosos, a Regra de S. Bento foi escrita para leigos, para que estes observassem uma vida o mais próxima possível do Evangelho, e não para clérigos, já que a intenção de S. Bento não era constituir uma ordem ou uma regra para clérigos. Com a imposição por parte da Igreja do estado de clericanismo aos Beneditinos, foi levada a cabo a consequente imposição dos deveres clérigos e sacerdotais. No entanto, as características de leigos permaneceram e distinguem a ordem das restantes. Uma das características da ordem é o trabalho como meio de se atingir o bem e chegar a Deus, a outra é o carácter social da ordem e do seu sentido de comunidade vivendo para o bem dos outros. Seguindo um ideal de pobreza, este é muito diferente do ideal de pobreza defendido por São Francisco de Assis, já que admite alguns poucos bens pessoais e bens da comunidade que podem ser muitos mas devem sempre ser utilizados para benefício do próximo.
São Bento de Núrsia. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-11-17].

Regra de S. Bento
Trata-se de um texto escrito por S. Bento (c. 480 - c. 547) no fim da sua vida, composto a partir de 530. Hoje, admite-se que Bento de Núrsia utilizou uma regra anónima ligeiramente anterior, a Regula Magistri (ou "Regra do Mestre"), cuja redação se deve situar entre 500 e 530.
"Monumento de vastas proporções, de arquitetura sólida", a Regra de S. Bento coloca um abade à cabeça de cada mosteiro (abade deriva do siríaco apa, pai, cuja helenização deu abbas, assim passando ao latim). Se a "Regra do Mestre" determina que o abade deve ser designado pelo predecessor, a Regra de S. Bento prevê a sua eleição pela comunidade, à cabeça da qual será colocado. O abade, segundo S. Bento, deverá amar os seus monges como seus filhos e fazer-se amar por eles.
Rigorosa e exigente no que concerne à disciplina e ao respeito, estrita quanto ao cumprimento do ofício divino, esta Regra distingue-se, todavia, pelo seu carácter humano, fonte de misericórdia e de harmonia. Introduz, igualmente, uma mudança decisiva: as comunidades monásticas, até então a maior parte delas laicas, são a partir de S. Bento compostas de sacerdotes e irmãos leigos.
Nascida das experiências quotidianas da vida comunitária, não seguindo um plano lógico estrito, mas distinguindo-se por um sentido de precisão que atinge os mais pequenos detalhes, serviu de base a todas as regras e textos normativos posteriores.
A princípio com limitada influência, a Regra começou a ser largamente difundida na época carolíngia, com Bento de Aniana, graças à autoridade na Igreja de Gregório, "o Grande", que confere um lugar de destaque a S. Bento e à sua época. Torna-se mesmo, na época românica, o documento fundamental da vida monástica, servindo de modelo a um grande número de novas ordens que a adotam ou nela se inspiram. A ação dos beneditinos (como dos cistercienses, também seguidores da Regra de S. Bento) alterará profundamente a Europa Ocidental e medieval em todos os seus domínios, fazendo com que S. Bento seja considerado o "Pai da Europa", o fundador do ideal europeu. Por outro lado, a Regra de S. Bento unificará e revitalizará o monaquismo ocidental, visto estar melhor adaptada aos novos tempos e aos monges da Europa Atlântica.
Em Portugal, entra com carácter definitivo e de forma clara depois do Concílio Coiança (Castela), em 1020.
A Regra de S. Bento foi o melhor sustentáculo da Igreja Medieval primitiva. Rompendo com o ascetismo intransigente do monaquismo oriental, instituiu uma vida comunitária rigorosa, mas razoável e equilibrada. Os seus vetores fundamentais são a humildade, a pobreza, a obediência ao Padre Abade e o respeito pela liturgia. Seis séculos depois da morte de S. Bento ainda não existia outra regra monástica no Ocidente. Tinha já fornecido 20 papas e inúmeros missionários. O ensino nas abadias beneditinas nos períodos agitados era o único sistema de formação de homens cultos e de administradores, cada vez mais confrontados com formas de governos mais complexas.
Esta Regra ainda hoje se mantém viva em milhares de mosteiros no mundo inteiro.
Regra de S. Bento. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-11-17].